segunda-feira, 16 de maio de 2011

geração coca-cola ou você vai até onde?

eu tinha acabado de chegar na parada de ônibus quando ouvi um senhor pregando sua religião pra quem quisesse escutar, como se fosse possível não ouvir. prontamente tirei meu celular da bolsa, pus os fones e aumentei o volume até penúltimo pra ouvir strokes. era a coisa mais barulhenta que eu tinha, paciência. embora meu esforço fosse meio em vão, eu sempre gosto de ouvir o que os evangélicos e/ou fanáticos pregam porque diz muito sobre falta de respeito, intolerância e preconceito. eu gosto mais ainda de ouvir pra decorar os absurdos que eles dizem pra nunca, jamais, em tempo algum reproduzí-los (embora eu tenha plena certeza de que nunca o faria). pois bem, o senhor pastor/pregador estava lá no começo da fila do meu ônibus falando sobre o castigo de deus àqueles que foram desobedientes com as leis divinas. falou alguma coisa sobre merecer estar baleado na restauração (sobre as pessoas que brigaram depois do jogo de ontem) e continuou seu rosário de pragas. falava também que tinha nojo dos homosexuais e que era um absurdo o homem deixar que as relações homoafetivas fossem banalizadas. nessa parte eu fiz um esforço enorme pra me controlar e não ir lá falar com ele. comecei a cantar strokes só pra mim, em alto e bom som. meu ônibus demorava pra chegar, mas ainda bem que o pastor se foi. foi pregar em outro ponto mais na frente. meu ônibus chegou e já estava cheio, como de costume. fui em pé no meu lugar preferido: perto da porta, lá atrás. e como se não fosse suficiente a pregação do pastor na parada, havia duas meninas de 15~16 anos cantando 'faroeste caboclo' na última fila, bem do meu lado. uma delas achava mesmo que era cantora, fazia sotaque de carioca/paulista/candango, jurando se aproximar da voz de algumas cantoras famosas do nosso país. depois disso, cantou 'geração coca-cola', "todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou", mais umas duas de legião até mudar de disco. agora elas cantavam roupa nova e guilherme arantes (desse aqui eu até gosto de algumas coisas) num delírio frenético que me fez questionar a idade delas. tive que olhar pra elas pra ver que estavam com a farda do ensino médio da rede pública. trocavam partes da letra, paravam na metade e retomavam como se não tivessem errado. eu tive que colocar o volume no último pra conseguir me concentrar em strokes. em vão. percebi que algumas pessoas quando se aproximavam da porta olhavam pra elas, a maioria condenando a cantoria. é claro que elas não se importavam com os olhares. até a hora em que eu desci elas não tinham calado a boca um só minuto.

ainda hoje eu conversava com dandara sobre pessoas que faltam com respeito nos ônibus, seja ouvindo seus celulares sem um fone, seja invadindo o espaço do outro (pregando, gritando, cantando, etc). eu sempre me pergunto onde termina meu direito e começa o do outro, mas nunca consegui entender esse limite porque sempre me sinto invadida pelas pessoas. nunca tive coragem pra falar com as pessoas que me "invadem", sempre acho que elas estão no direito. inclusive sempre penso que seria muita falta de respeito da minha parte ir lá e dizer que essa tal atitude está me causando incomodo. tenho medo de apanhar, de não ser gentil, de não me controlar e aí sim perder meu direito e de muitas outras coisas, né?! além do mais o que é o meu limite com certeza não é o limite do outro, embora existam parâmetros sociais para as coisas.

o fato d'eu me questionar sobre isso tem um tempo e tem uns porques. comecei a reparar nos ônibus a quantidade de gente que sobe pra pedir, vender, pregar, cantar, etc. confesso que de todos esses só acho mais aceitável os que sobem pra vender alguma coisa (de sachê de pó-de-serra pra perfumar até canetas pro rehab dos drogados), os demais sempre acho que eles estão invadindo o espaço alheio. eu sempre penso que: não sou obrigada a ouvir pregação evangélica, não sou obrigada a contribuir com o leite das crianças ou com os mudos, não sou obrigada a ouvir os sucessos de ninguém, também não sou obrigada a comprar nada que venham me vender (embora esses, ao menos, estão "trabalhando"). se eu subi no ônibus, só desejo chegar no meu destino sem maiores acontecimentos/aborrecimentos. entendo que esse tipo de prática é cultural e recorre devido ao desequilíbrio social e blá blá blá, e posso estar sendo radical e intolerante (tanto quanto o pastor da parada), mas gostaria de entender essa dinâmica dos limites. gostaria de conversar com essas pessoas pra saber o que elas acham de se colocar no lugar do outro e se sentir invadido de alguma forma. eu realmente queria saber o que se passa na cabeça de alguém que causa incomodo e não se dá conta disso.

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